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Guia para curar a ressaca: Os truques eficazes e as dicas inúteis

Beber café, comer fast food ou enfiar a cabeça numa taça com água são algumas das dicas para curar a ressaca. Mas será que resultam? Quais os truques eficazes e quais as dicas inúteis?

19 Out 2022 - 02:51

Guia para curar a ressaca: Os truques eficazes e as dicas inúteis

Beber café, comer fast food ou enfiar a cabeça numa taça com água são algumas das dicas para curar a ressaca. Mas será que resultam? Quais os truques eficazes e quais as dicas inúteis?

O truque de enfiar a cara numa taça com água fria é uma das mais recentes dicas para curar a ressaca partilhadas no TikTok. Mas não é a única. Todos os dias, nas redes sociais, são partilhados conselhos e  receitas “milagrosas” que prometem fazer desaparecer os sintomas manifestados depois de uma noite de copos. No entanto, nem todas são tão eficazes.

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Para perceber quais os truques eficazes e quais os conselhos inúteis, o Viral entrevistou o endocrinologista no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHSJ), João Sérgio das Neves.

Antes de partir para os métodos que podem ou não ajudar a curar a ressaca, o especialista deixa apenas uma ressalva: nenhuma destas técnicas consegue contrariar os efeitos tóxicos causados pelo consumo excessivo de álcool.

Beber café ajuda a curar a ressaca?

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Ainda não existiam redes sociais e a sabedoria popular já defendia que beber café ajuda a curar a ressaca. Em resposta a essa ideia, João Sérgio das Neves explica que, “quando existe um consumo excessivo de álcool”, o organismo passa por um estado semelhante a períodos de “menor repouso”. Por isso, em alguns casos, “a cafeína consegue contrariar parte dos sintomas”.

No entanto, sublinha, é importante ter em conta um fator importante: a desidratação, um dos efeitos adversos mais perigosos do consumo excessivo de álcool. Ora, a cafeína também tem “um papel promotor da diurese (produção de urina pelo rim)”, podendo levar à desidratação. 

Logo, conclui, o consumo de café num período de ressaca “nunca deve ser feito de ânimo leve”, ou seja, deve ser sempre acompanhado de “uma ingestão de água e de líquidos”.

Comer um hambúrguer acelera a cura da ressaca?

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Quando a luz do sol começa a entrar em casa depois de uma saída à noite, a primeira tentação é comer uma boa dose de comida gordurosa. Há quem defenda, inclusive, que comer fast food ajuda a curar a ressaca. 

Nesse sentido, o endocrinologista começa por esclarece que, quando há um consumo excessivo de álcool, há uma alteração no funcionamento hepático, sendo que uma das funções do fígado é a produção de glicose.

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Assim sendo, quando se consome demasiado álcool, este processo pode ser afetado e “os níveis de glicose podem ficar mais baixos”, provocando “uma maior apetência” para “comidas mais hipercalóricas”, nomeadamente “alimentos com hidratos de carbono simples”. 

Ainda assim, defende João Sérgio Neves, “se por um lado a ingestão de hidratos de carbono pode ajudar a pessoa a sentir-se melhor” e a “recuperar um pouco da agressão feita ao organismo, nunca recomendaria por rotina que isso fosse feito à custa de fast food”. 

Porquê? Porque isso significaria “uma dupla agressão ao organismo”, primeiro com o consumo excessivo de álcool e depois com “uma refeição claramente não saudável”, adianta.

Na visão do médico do Hospital de São João, “o ideal é que a pessoa se alimente bem, se hidrate bem, mas preferencialmente optando por alimentos mais naturais, menos processados e menos hipercalóricos”.   

Há benefícios em consumir sumos naturais para curar a ressaca?

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Se o café e a fast food em excesso são desaconselhados na cura da ressaca, os sumos e a fruta “são alimentos que podem ser adequados na recuperação após o consumo de álcool como uma medida geral”, sustenta o endocrinologista. 

Segundo o médico, por um lado, “os açúcares da fruta – a frutose – poderão ajudar a recuperar esta parte relacionada com a carência energética, calórica e de hidratos de carbono”, assegura. Por outro prisma, “a fruta tem várias vitaminas e minerais que são favoráveis ao organismo”. 

Por isso, “tem mais lógica pensar no reforço da fruta e até na utilização de sumos após o período de consumo de álcool excessivo do que propriamente pensar na fast food”. 

A nova dica do TikTok resulta para curar a ressaca?

O especialista entrevistado pelo Viral diz não conhecer nenhuma prova científica que comprove que enfiar a cara numa taça com água fria possa ter benefícios na cura da ressaca. Frequentemente, aponta Neves, o que se verifica nestas “modas” é “o chamado efeito placebo”. 

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Para clarificar, acrescenta, “nós sabemos que, se a pessoa estiver convicta de que uma intervenção vai ter um benefício, mesmo que essa intervenção seja maioritariamente neutra, pode sentir-se melhor”.

Isto acontece, naturalmente, “em situações em que os sintomas têm muita subjetividade”, como no caso do “consumo excessivo de álcool”.

Contudo, o médico reitera que “nenhuma destas intervenções vai contrariar os efeitos nefastos do consumo de álcool” e assegura não existir nenhuma lógica que explique a presença de “um grande benefício, ou seja, uma proteção do organismo” para fazer uma “exposição à água fria”.

Deve tomar-se medicamentos para curar a ressaca? Quais?

“Por rotina”, avança João Sérgio Neves, “não há necessidade de recomendar nenhuma medicação específica para quando existe um consumo excessivo de álcool”.

Ainda assim, existem “alguns medicamentos do dia a dia que, por vezes, são mais seguros do que os chamados ‘medicamentos específicos para as situações de ressaca’”, sobre os quais pode não existir evidência relativamente à sua eficácia.

Exemplo disso, vinca, é “o paracetamol que, quando utilizado em doses baixas e particularmente se um dos sintomas for a dor de cabeça, pode ser utilizado e pode ajudar a recuperar os sintomas” da ressaca em conjunto com “uma hidratação adequada”. 

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Noutro plano, existem medicamentos criados especificamente para este tipo de situação, sendo um dos mais utilizados o “gurosan, que tem cafeína”, podendo ajudar a contrariar efeitos como a sonolência e a falta de energia. Para mais, completa, alguns destes medicamentos contêm “vitamina C, presente em algumas das frutas e na alimentação saudável que podemos fazer para ajudar a regenerar o corpo”.

Contudo, adverte, não há provas de que “o efeito tóxico do álcool possa ser contrariado pelo uso desta medicação”. 

Deste modo, “nunca devemos assumir que é seguro haver o consumo excessivo de álcool porque a seguir vamos ter medicamentos para contrariar os efeitos tóxicos do álcool”. 

“Vamos sempre partir do pressuposto que qualquer consumo excessivo de álcool vai ser prejudicial, devendo ser minimizado e evitado”, conclui.

19 Out 2022 - 02:51

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