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Dificuldade em “perder barriga”? Conheça os fatores que podem estar a boicotar os seus objetivos

27 Ago 2024 - 10:06

Dificuldade em “perder barriga”? Conheça os fatores que podem estar a boicotar os seus objetivos

Sente que a gordura abdominal é sempre a “última a desaparecer” e que, mesmo fazendo exercício físico e dieta, continua a não conseguir “perder barriga”? Não é o único. Nas redes sociais, várias pessoas dizem sentir que a gordura na zona abdominal é mais difícil de perder.

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Existem dois tipos de gordura nesta região: a visceral e a subcutânea. A gordura visceral acumula-se entre os órgãos abdominais e na região da barriga – cientificamente identificada como “omentum”; já a gordura subcutânea localiza-se por baixo da pele.

Não existem exercícios específicos para perder barriga nem uma dieta que tenha efeito só numa zona do corpo. Mas há uma “boa notícia”: a gordura visceral “responde de melhor forma à dieta e ao exercício do que a gordura subcutânea nas ancas e coxas”, explica Joana Menezes Nunes, especialista nas áreas de endocrinologia e nutrição, em declarações ao Viral.

Mas se este tipo de gordura responde melhor à dieta e ao exercício, por que razão a gordura na zona abdominal parece ser a última a desaparecer?  Eis os vários fatores que podem estar a boicotar os seus objetivos.

Fatores que pode controlar:

  • Alimentação desequilibrada

Adotar uma alimentação saudável é o primeiro passo para evitar acumular gordura, tanto na região abdominal como noutras zonas do corpo.

Joana Menezes Nunes aconselha seguir um plano alimentar “equilibrado”, que seja “rico em verduras, vegetais, frutas, proteínas de elevado valor biológico e hidratos de carbonos complexos” e “sem gorduras trans, sem açúcares, sem alimentos processados, sem aditivos, corantes e emulsionantes”.

A especialista lembra que a dieta mediterrânica e a dieta das “blue zones” (baseada na alimentação típica de regiões em que se vive mais tempo) são as que, “cientificamente, trazem mais benefícios para a saúde”.

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  • Sedentarismo e falta de exercício físico

O sedentarismo é, por muitos, considerado a doença do século XXI. Segundo o Relatório Global sobre a Atividade Física de 2022, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 80% dos adolescentes e 27% dos adultos não cumprem as recomendações referentes à atividade física.

A OMS recomenda que um adulto realize entre 150 e 300 minutos de atividade física aeróbica de moderada a intensa por semana ou entre 75 e 150 minutos de atividade intensa ou vigorosa.

No mesmo sentido, Joana Menezes Nunes aconselha a fazer “pelo menos 30 minutos de exercício de moderada intensidade por dia”, podendo optar, por exemplo, por caminhadas em passo rápido ou passeios de bicicletas.

Também no dia a dia poderá aumentar a sua atividade física em pequenas ações que o obriguem a caminhar mais, tais como: deixar o carro estacionado mais longe do trabalho, sair na paragem de metro/autocarro anterior à habitual ou optar por subir as escadas em vez de utilizar os elevadores.

A endocrinologista destaca a importância da prática de exercício físico para “reduzir a gordura visceral, mesmo que tenha pouco ou nenhum impacto no peso” e lembra que “peso não é sinónimo de massa gorda” e que a massa magra (vulgo músculo) poderá também aumentar com o exercício físico.

  • Fumar

O hábito de fumar parece também ter alguma ligação ao ganho de gordura. Num texto publicado na página da Universidade de Harvard esclarece-se que “quanto mais fumar, maior é a probabilidade de acumular gordura no abdómen em vez de nas ancas e coxas”.

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A relação entre o tabaco e a gordura visceral foi identificada num estudo publicado em 2012. Os investigadores identificaram uma “associação positiva entre obesidade abdominal e o ato de fumar”, sendo esta “primeiramente mediada por um aumento da gordura visceral”.

Apesar das limitações descritas no artigo científico – como a impossibilidade em “estabelecer associações temporais para identificar relações causais claras” –, refere-se ainda que o tabaco “pode aumentar comorbilidades relacionadas com a obesidade que estão relacionadas com o aumento a adiposidade [gordura] visceral”.

  • Stress excessivo

O stress diário pode estar a aumentar a sua gordura abdominal. E o responsável por isto é o cortisol. Conhecido como a hormona do stress, o cortisol é libertado pelo organismo em resposta a situações de potencial ameaça. No entanto, quando em demasia, pode ser negativo para o organismo.

Sabe-se que as células de gordura abdominal “têm quatro vezes mais recetores de cortisol do que as células de gordura localizadas noutras partes do corpo”, explica-se neste artigo, citado por Joana Menezes Nunes.

“O cortisol é a hormona relacionada com o stress que aponta especialmente para as células de gordura na área abdominal. Stress constante produz níveis crónicos de cortisol e isso pode ser a verdadeira razão para continuar na luta pela sua curva da cintura”, pode ler-se no mesmo texto.

Além disso, uma maior concentração de gordura visceral leva também ao aumento do nível de cortisol no organismo: “Elevado [nível de] cortisol contribui para a gordura abdominal e extra gordura abdominal contribui para o excesso de cortisol. É um círculo vicioso.”

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Joana Menezes Nunes refere que as situações de stress podem também levar o indivíduo a “comer por impulso e ansiedade” ou como “recompensa”, provocando, em casos mais graves, situações de “binge eating”, em que existe uma “propensão para comer alimentos prazerosos (com açúcar, gorduras, salgados)”.

“Esta situação acarreta consequências deletérias para a saúde e perpetua o círculo vicioso”, alerta a endocrinologista.

  • Má higiene do sono

Costuma dizer-se que uma boa noite de sono é reparadora. Por isso, dormir pouco, dormir mal e andar stressado pode ter impacto na acumulação de gordura visceral.

Por um lado, os elevados níveis de cortisol (associados ao stress) podem interferir com a libertação de melatonina – a hormona que ajuda a dormir –, por outro, uma noite mal dormida pode aumentar o apetite durante o dia.

Joana Menezes Nunes explica que, “se houver alteração do ritmo circadiano, estamos a alterar os padrões de secreção de cortisol”. Idealmente, os níveis de cortisol são mais elevados de manhã, reduzindo gradualmente durante o dia.

Um estudo publicado em 2017 analisou a concentração de cortisol no cabelo (um biomarcador para o stress) de 2527 indivíduos (homens e mulheres, a grande maioria britânicos) com mais de 54 anos e comparou os valores com o peso e a circunferência da cintura.

Os investigadores concluíram que uma “exposição crónica a elevadas concentrações de cortisol, avaliadas pelo cabelo, está associada a marcadores de adiposidade e com a persistência de obesidade ao longo do tempo”. 

Além disso, dormir mal e pouco está ainda relacionado com o aumento dos níveis da hormona grelina (que estimula o apetite) e redução dos níveis de leptina (hormona responsável pela saciedade), o que contribui para uma maior vontade de comer ao longo do dia.

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Fatores que não pode controlar:

A acumulação de gordura visceral não depende apenas de hábitos saudáveis, há outros fatores que podem estar contra si nesta luta. A quantidade de gordura acumulada no abdómen depende também de fatores genéticos, hormonais, de idade e de sexo.

A genética pode influenciar a quantidade de gordura visceral que vai acumular ao longo da vida. Se os seus antepassados têm tendência a acumular gordura visceral, é provável que também venha a sentir dificuldade em reduzir este tipo de tecido adiposo.

Também o peso na altura do nascimento pode interferir: bebés pequenos para idade gestacional podem ter maior risco de acumular gordura visceral quando adultos.

O sexo e a idade são também fatores que alteram a quantidade de gordura visceral acumulada. “As mulheres mais jovens têm menor risco de ganhar gordura visceral do que os homens”, mas as “mulheres em pós-menopausa têm maior risco”, explica Joana Menezes Nunes. A gravidez também aumenta a probabilidade de acumular gordura na região abdominal.

Os riscos da gordura visceral para a saúde

Joana Menezes Nunes explica ao Viral que “a gordura subcutânea e a visceral são completamente diferentes”. Segundo a literatura científica atual, a “gordura visceral é biologicamente ativa” e, em excesso, pode ter consequências para a saúde. 

“A gordura subcutânea produz várias moléculas, algumas benéficas. Pelo contrário, a gordura visceral produz moléculas deletérias para a saúde”, prossegue a especialista.

Entre as moléculas produzidas pela gordura visceral contam-se as “citocinas, que contribuem para a inflamação de baixo grau,” e as proteínas “angiotensinas, que causam vasoconstrição e aumento da tensão arterial”.

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Desta forma, a gordura visceral “aumenta o risco de doença cardiovascular, hipertensão arterial”, assim como altera “os valores de açúcar no sangue (falamos em diabetes mellitus e as condições que lhe antecedem), aumenta os valores do colesterol mau (LDL) e dos triglicerídeos, diminuindo o colesterol bom (HDL)”.

Segundo o mesmo artigo da Universidade de Harvard, a gordura visceral aumenta o risco de demência, asma, cancro da mama (principalmente em mulheres pós-menopausa) e cancro colorretal.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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