
Como parar os soluços? Há técnicas comprovadas?
A sabedoria popular propõe várias “técnicas” para curar os soluços, como apanhar um susto ou suster a respiração. Mas serão estas práticas baseadas em evidência científica? E resultam? Em declarações ao Viral, o pneumologista Tiago Alfaro explica o que se sabe – e o que não se sabe – sobre como parar os soluços.
Incómodos, inconvenientes ou até irritantes, os soluços resultam de um espasmo involuntário do diafragma – o músculo que regula a respiração – e podem demorar alguns minutos a passar. Várias “técnicas” param, alegadamente, os soluços: apanhar um susto, suster a respiração, beber água gelada, respirar lentamente ou tapar o nariz e fazer pressão são alguns dos conselhos partilhados de geração para geração.
Mas qual a “técnica” mais eficaz? Estarão estas práticas validadas pela ciência? E será que podem representar um risco para a saúde?
Como parar os soluços?
Em declarações ao Viral, Tiago Alfaro, pneumologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, explica que os soluços – singultos, no termo médico – “param naturalmente”. Por isso, não existem estudos que comprovem a eficácia de qualquer uma destas práticas.
“A principal forma de fazer parar os soluços é não fazer nada”, afirma o pneumologista.
Quanto aos truques para parar os soluços que estão enraizados nas crenças populares, Alfaro adianta que “a maior parte destas técnicas não tem grandes riscos e parece funcionar porque os soluços desaparecem, mas nenhuma está minimamente demonstrada pela ciência.”
O pneumologista diz ainda que, apesar de não se saber o que provoca os soluços, existem teorias – não comprovadas – que relacionam estas “técnicas” com efeitos ao nível do sistema nervoso, responsável pela contração do diafragma.
Um susto, por exemplo, pode provocar “um estímulo no nervo vago” – parte do sistema nervoso autónomo, que controla as funções involuntárias – e fazer com que o diafragma retome o movimento normal. Suster a respiração ou respirar de forma mais lenta, por outro lado, pode aumentar o nível de dióxido de carbono (CO2) no sangue, “reduzindo a atividade nervosa”.
Para que as estas “técnicas” fossem comprovadas cientificamente teriam de ser realizados ensaios clínicos aleatórios, que permitissem aos investigadores comparar o comportamento de um grupo de estudo com um grupo de controlo.
Como os soluços benignos duram apenas alguns minutos, “não há grande razão para se fazerem estudos, pois é uma situação pouco relevante e que passa sozinha”, lembra Tiago Alfaro.
Num artigo sobre as causas e curas dos soluços, publicado em 1985, é referido que, “embora dezenas de remédios para os soluços tenham sido relatados ao longo dos séculos, nenhuma ‘cura’ se destaca como a mais eficaz”.
No entanto, o autor do artigo destaca que as “medidas que estimulam a úvula ou a faringe e interrompem o ritmo diafragmático (respiratório) são simples de usar e, muitas vezes, ajudam a acelerar o fim de um surto de soluços autolimitados benignos” ou até “acabar com soluços persistentes”.
Os soluços persistentes são motivo de preocupação?
Os soluços persistentes são raros, podem prolongar-se durante dias, semanas ou meses. Estas situações mais gravosas podem ocorrer em pessoas saudáveis ou estar relacionadas com doenças do foro respiratório, cardiovascular ou gastrointestinal.
“Só pessoas com crises de soluços muito prolongadas é que chegam ao hospital”, afirma Tiago Alfaro.
O tratamento dos singultos persistentes deve ser direcionado para a doença que está na origem dos soluços, de forma que os espasmos do diafragma acabem por desaparecer.
Contudo, “nos casos em que não se consegue identificar ou tratar a causa, são usados fármacos que interferem na contração muscular – como relaxantes musculares – ou na condução nervosa.”
Em conclusão, as “técnicas” para fazer parar os soluços não foram comprovadas cientificamente, porque não foram realizados estudos sobre o assunto.
Existem teorias de que práticas que interfiram com os estímulos nervosos – como os sustos ou suster a respiração – podem fazer os soluços terminarem mais rapidamente. A maioria destas práticas não constitui um grande risco para a saúde, pelo que não haverá mal em continuar a seguir estes conselhos ancestrais.
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