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É seguro comer fruta com casca? Deve-se descascar sempre os alimentos?

16 Fev 2023 - 03:12

É seguro comer fruta com casca? Deve-se descascar sempre os alimentos?

O receio da presença de resíduos de pesticidas nas frutas e nos legumes é um tema que tem conquistado espaço nas redes sociais. Por um lado, há quem defenda que é seguro e benéfico para a saúde comer alimentos com casca. Por outro, há quem acredite que se deve descascar sempre a fruta para minimizar o risco de ingestão destes resíduos.

Com o crescimento do mercado dos produtos biológicos, adensam-se as dúvidas na população em geral sobre a segurança alimentar dos hortofrutícolas produzidos na agricultura convencional. Mas terão estes receios fundamento? Afinal, é ou não seguro comer fruta com casca? É necessário descascar sempre os alimentos?

Deve descascar a fruta para evitar ingerir resíduos de pesticidas?

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Em declarações ao Viral, Isabel Ratão, professora na área da segurança alimentar no Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve (ISE), adianta que a potencial ingestão de resíduos de pesticidas parece ser pouco relevante quando comparada com os benefícios nutricionais presentes na casca das frutas.

Segundo a especialista, “à luz do conhecimento atual, é seguro ingerir [alimentos com resíduos de] pesticidas porque os níveis previstos na legislação são baixos”.

No entanto, sublinha Isabel Ratão, frutas diferentes podem merecer abordagens distintas. Por exemplo, a maçã tem, geralmente, “uma cera fungicida” que inibe a ação dos fungos e conserva a fruta, mas não precisa de ser descascada, porque a lavagem “ajuda a diminuir” os resíduos de pesticidas.

Já o morango é “dos casos mais problemáticos porque não tem casca e é demasiado sensível para esfregarmos bem”. Neste caso, a professora do ISE sugere que pode ser mais prudente (para quem tem esta preocupação) comprar morango produzido de modo biológico, já que neste tipo de agricultura o número de pesticidas autorizados é menor.

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Também para a professora, investigadora e coordenadora da pós-graduação em segurança alimentar da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Paula Teixeira, o ato de descascar pode ser visto como uma salvaguarda, ou seja, quando não se tem conhecimento sobre se a fruta que comprámos foi ou não produzida com “grandes quantidades de pesticidas”.

Na ótica da professora da UCP, “devemos até lavar e descascar” os hortofrutícolas para evitar a “contaminação com agentes biológicos” como bactérias. A conjugação dos dois gestos deve ser tida em conta “pelos perigos biológicos e pelos perigos químicos”, uma vez que contribui para “reduzir o risco significativamente”.

Ainda assim, importa sublinhar que existem regras apertadas, em Portugal e na Europa, sobre a utilização de pesticidas na agricultura, estando os agentes económicos envolvidos na produção e na comercialização de produtos agrícolas obrigados a respeitar os “limites máximos de resíduos (LMR)”.

Fruta biológica tem menos resíduos de pesticidas?

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Isabel Ratão defende que quem quiser comer a fruta com casca e estiver preocupado em reduzir a probabilidade de ingerir resíduos de pesticidas pode optar por comprar produtos com certificado biológico

A especialista em segurança alimentar defende que, no que diz respeito à quantidade de resíduos de pesticidas, “faz bastante diferença optar pela fruta biológica”. Por isso, considera, “se estivéssemos num mundo ideal e todos tivéssemos dinheiro para comprar sempre biológico, era preferível”.

Assim, na perspetiva de Isabel Ratão, conjugando a segurança alimentar e a capacidade financeira, “é preciso procurar o meio-termo” e escolher as frutas que vão ser consumidas com casca e as que vão ser descascadas.

Descascar é o único método que pode diminuir os resíduos de pesticidas dos alimentos?

A evidência científica mostra que, antes de descascar a fruta, é importante lavá-la com água, dado que este gesto previne a transferência de bactérias presentes na casca para o interior do alimento através do corte.

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Esta ideia está presente num estudo que analisou a caracterização microbiológica de melão pele-de-sapo já cortado e embrulhado em plástico filme em frutarias na Área Metropolitana do Porto. Segundo os investigadores, algumas bactérias “podem ser transferidas do exterior para o interior da fruta através da lâmina de corte”. 

O recurso ao bicarbonato de sódio ou a concentrados com lixívia também já foi testado cientificamente e, embora a lavagem da fruta com estes compostos diminua a quantidade de resíduos de pesticidas, os investigadores concluem que “descascar é mais eficiente para remover os pesticidas absorvidos” pelos alimentos.

A lavagem da fruta, por si só, também parece ser capaz de remover resíduos de pesticidas, tal como sugere outro trabalho científico que analisou especificamente laranjas. A passagem desta fruta por água corrente ajudou a diminuir entre 26% a 84% os níveis de pesticidas presentes na casca, segundo os investigadores.

Importa sublinhar que, independentemente destes aspetos, a Roda da Alimentação Mediterrânica recomenda a ingestão de 3 a 5 porções de fruta por dia, tal como se lê num documento da Associação Portuguesa de Nutrição. Assim, considerando que cada porção tem cerca de 160 gramas, o intervalo recomendado para uma alimentação saudável é entre 480 e 800 gramas de fruta por dia.

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Alimentação

16 Fev 2023 - 03:12

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