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Cobertores pesados melhoram o sono? O que diz a ciência e o que falta saber

20 Fev 2023 - 09:18

Cobertores pesados melhoram o sono? O que diz a ciência e o que falta saber

Os cobertores pesados, também conhecidos como cobertores ponderados ou “weighted blankets” (na denominação inglesa), são mencionados em várias publicações das redes sociais pelos seus supostos benefícios para o sono.

Segundo estes posts, o peso destes cobertores (que pode ir dos 2,5 quilos aos 15 kg) e a pressão exercida pelos mesmos sobre o corpo promovem o relaxamento e têm um efeito na melhoria da qualidade do sono e na redução da ansiedade. Mas o que diz a ciência sobre os cobertores pesados? E o que falta saber?

O que se sabe (e o que falta saber) sobre os supostos benefícios dos cobertores pesados?\

cobertores pesados

Em declarações ao Viral, o diretor da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, Miguel Meira e Cruz, adianta existir “alguma evidência científica” que aponta para efeitos benéficos do uso destes cobertores tanto na qualidade do sono quanto na redução da ansiedade.

No entanto, sublinha o também diretor do Centro Europeu do Sono, “precisamos de estudos mais robustos com maior dimensão de amostra e com diversas populações para não termos dúvidas de que esta pode ser uma terapêutica indicada no futuro”.

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Meira e Cruz começa por explicar que o uso de cobertores pesados se baseia, “em princípio e em teoria”, nos benefícios já estudados da técnica de estimulação muscular profunda. 

Esta técnica, acrescenta o especialista, consiste em pressionar “determinados pontos corporais” para estimular uma ativação do “sistema nervoso autónomo parassimpático” (que “corresponde a uma certa acalmia”), inibindo as manifestações do sistema nervoso autónomo simpático, “que está associado a maior stress, a maior ansiedade e a maior risco cardiometabólico”.

Ou seja, partindo do princípio que os cobertores pesados têm o mesmo efeito que a técnica de estimulação muscular profunda, o peso que exercem sobre o corpo pode “funcionar como uma espécie de massagem” que ajuda a acalmar.

Quanto aos estudos que já existem sobre o assunto, Meira e Cruz refere, a título de exemplo, um trabalho que demonstrou que “esta terapia pode ter um efeito importante no sono das crianças autistas ou com hiperatividade e défice de atenção”.

No mesmo plano, outro estudo mencionado pelo especialista sugere que os cobertores pesados possam ser “uma intervenção eficaz e segura para a insónia em doentes com depressão grave, doença bipolar, perturbação de ansiedade generalizada, ou Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, melhorando também os sintomas diurnos e os níveis de atividade”.

Por fim, uma revisão sistemática publicada em 2020 conclui que “os cobertores pesados podem ser um instrumento terapêutico adequado para reduzir a ansiedade”, mas aponta, no entanto, não haver “provas suficientes que sugiram que sejam úteis nas insónias”.

Apesar de considerar que os estudos sobre os cobertores pesados abrem boas perspetivas sobre os benefícios da sua utilização, Meira e Cruz reforça serem “precisos mais estudos que corroborem isto e que alimentem este crédito através de metodologias mais afinadas”, comparando, por exemplo, os resultados do uso de um cobertor ponderado com o uso de um cobertor ou lençol placebo.

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Além disso, Meira e Cruz diz ser necessário também “experimentar isto em diferentes populações”, nomeadamente “populações com maiores níveis de ansiedade ou com populações com maiores níveis de doenças psiquiátricas”, e “controlar a ação de fármacos que, obviamente, também interagem com o sono”.

“Nós temos de ter a certeza de que foi o cobertor e não o fármaco que deu um sono de melhor qualidade à pessoa. E não me refiro apenas a fármacos para o sono, mas também a outros medicamentos que, colateralmente, podem atuar num sono de melhor qualidade”, conclui.

Quem não deve utilizar cobertores pesados?

cobertores pesados

Miguel Meira e Cruz diz que crianças abaixo dos 3 anos não devem utilizar cobertores pesados, “porque têm sistema respiratório imaturo e o sistema cardiovascular imaturo”.

Por outro lado, acrescenta “também se tem de ter cuidado com situações que têm restrição à respiração durante a noite, como a apneia do sono ou como a asma, que piora durante a noite”.

Pacientes que “tenham uma claustrofobia” podem também sentir-se “mais apertados” com o uso de cobertores pesados, “e isso pode agitá-los e ter um efeito contrário” ao pretendido.

O especialista do sono considera ainda ser “prudente e de bom senso” que, “antes de se usar qualquer destas coisas”, e tendo em conta o impacto dos problemas de sono na saúde, “se consulte um clínico, porque podem existir alternativas mais viáveis, mais rápidas e mais concretas para a situação em causa”.

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Sono

20 Fev 2023 - 09:18

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