Champôs para prevenir piolhos: Vale a pena comprar?
Receber um aviso da escola sobre uma infestação de piolhos na turma das crianças da família é uma experiência desagradável, mas quase universal. Os mais novos são a faixa etária mais afetada por estes parasitas, mas a infestação (também conhecida como pediculose) pode espalhar-se a todos os elementos da família.
No mercado, encontram-se produtos capilares que prometem afastar os piolhos e, assim, prevenir a infestação. Estes champôs têm diferentes composições, podendo ser feitos à base de óleos essenciais ou vinagre.
Mas serão estes produtos preventivos eficazes? Terão estes champôs efeitos repelentes para os piolhos?
Champôs para prevenir piolhos são eficazes?
Em resposta ao Viral, Alexandra Osório, dermatovenereologista na Clínica Dermage, explica que, “do ponto de vista científico”, não existem provas de que champôs para “prevenir piolhos” funcionem.
Também Sara Fernandes, farmacêutica especializada em dermocosmética e autora do blog Make Down, diz não haver “evidência sólida” sobre o efeito repelente destes produtos no que diz respeito aos piolhos.
“Estes produtos têm óleos essenciais na sua composição, que são tóxicos para insetos e parasitas. Em algumas pessoas pode haver um efeito residual”, explica.
Os produtos que prometem um efeito preventivo contra a pediculose têm por base óleos essenciais ou compostos semelhantes ao vinagre. Alexandra Osório lembra que o vinagre era uma técnica antiga para prevenir os piolhos, mas não tem base científica.
“Antigamente, usava-se muito o vinagre para prevenir [a infestação por piolhos]. Aplicava-se vinagre na última lavagem do cabelo, mas tinha de se repetir o processo todos os dias. Também havia quem usasse perfume no cabelo”, esclarece a dermatovenereologista.
Segundo um artigo de perguntas e respostas publicado no site do Serviço Nacional de Saúde, não é possível prevenir uma infestação por piolhos e “a melhor forma de prevenir é estar atento e evitar o contacto direto com cabelos infestados”.
É também aconselhado ensinar comportamentos de prevenção às crianças, tais como “não usar pentes ou chapéus de outros, nem emprestar-lhes os seus”.
“Como vigilância, pode optar por passar um pente fino semanalmente, de preferência à sexta-feira, para fazer o tratamento durante o fim de semana”, pode ainda ler-se na página do SNS24.
Autoridades internacionais como o Centro norte-americano de Controlo e Prevenção de Doença (CDC, na sigla inglesa) e a FDA (autoridade dos EUA que regula os fármacos) não referem o uso destes champôs como prevenção para a pediculose.
Sugerem, em vez disso, que se evite o contacto próximo entre cabeças e cabelo, a partilha de chapéus, cachecóis, fitas do cabelo ou gorros e equipamentos desportivos, bem como o uso de pentes, escovas ou toalhas de outras pessoas.
Também não é aconselhado deitar-se em camas, sofás, almofadas, tapetes ou peluches de pessoas que tiveram uma infestação de piolhos.
Para desinfestar os objetos ou roupas, aconselha-se lavá-los a uma temperatura superior a 50 °C. No caso dos pentes e das escovas, os objetos devem ficar submersos em água quente entre cinco e 10 minutos. Outra técnica sugerida é colocar os objetos em sacos plásticos selados durante duas semanas.
Como ocorre a infestação? Há pessoas mais propensas a “apanhar” piolhos?
Na definição do SNS24, refere-se que os piolhos “são insetos parasitas, sem asas, que precisam de um hospedeiro como o ser humano para completar o ciclo de vida”. Em média, os piolhos vivem 30 dias, mas sobrevivem apenas 24 horas fora do hospedeiro.
Na idade adulta, os piolhos depositam entre oito e 12 ovos por dia (lêndeas), que demoram entre sete e 10 dias a nascer.
A pediculose é muitas vezes associada a falta de higiene capilar, mas essa ideia não é verdadeira: “Os piolhos aderem melhor aos cabelos limpos, sem gordura ou resíduos. No entanto, a falta de higiene no cabelo pode, depois, favorecer o aparecimento de infeções mais graves”, explica-se ainda no texto do SNS24.
Sara Fernandes reconhece que pode haver crianças “atreitas” a infestação de piolhos, mas não há uma explicação científica para essa situação. Sabe-se, no entanto, que os cabelos compridos são mais propícios a piolhos e também à transmissão de parasitas.
A comichão no couro cabeludo é um dos principais sinais de potencial pediculose. No entanto, este sintoma pode ocorrer algumas semanas após a infestação. O prurido acontece devido à “injeção” de uma espécie de saliva no couro cabeludo aquando da picada do piolho.
As duas especialistas consultadas pelo Viral aconselham os pais e encarregados de educação a adotar uma postura vigilante perante possíveis infestações por piolhos, mas consideram que não há necessidade de aplicar produtos para prevenir.
“A melhor forma de prevenção é inspecionar a cabeça das crianças todas as semanas, por exemplo, em dias fixos”, afirma Alexandra Osório.
Se identificar piolhos ou lêndeas no cabelo da criança, deve realizar um tratamento com champôs próprios para “matar o piolho e a lêndea” (seguindo as instruções do produto) e, posteriormente, “passar o pente para retirar os que não morreram”, acrescenta a dermatovenereologista. O tratamento deve ser repetido pelo menos uma vez após uma semana.