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Já tem um cão e vai ter um bebé? Como gerir a convivência entre animais e crianças

19 Ago 2024 - 09:40

Já tem um cão e vai ter um bebé? Como gerir a convivência entre animais e crianças

A chegada de um bebé é um momento de muitas mudanças para todos os elementos da família… inclusive os de quatro patas. Por isso, na altura de gerir a coabitação da criança com os animais, como o cão e o gato, surgem dúvidas como: É seguro o meu animal interagir logo com o bebé? Como “apresentar” o cão ou o gato à criança? Quais os cuidados a ter?

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Em esclarecimentos ao Viral, a veterinária e vice-presidente da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV), Sónia Miranda, e a pediatra e Coordenadora da Pediatria no Hospital Cruz Vermelha (HCV), Isabel Saraiva de Melo, explicam como se deve preparar um cão ou gato para a chegada de um bebé, como gerir a convivência entre o animal e a criança e quais os cuidados a ter nesta fase.

Como preparar o cão ou o gato para a chegada do bebé?

Sónia Miranda começa por referir que, atualmente, é comum as famílias terem animais de estimação antes de terem filhos. “Muitas vezes, o bebé chega já com a presença de animais que, durante muito tempo, ‘ocuparam’ a posição de uma criança em casa”, explica. 

Por isso, antes da chegada de um bebé, a veterinária recomenda que se faça uma “preparação prévia tranquila, mas bem pensada”. 

“Dependendo se é cão ou gato e do comportamento habitual do animal, é muito importante haver um treino comportamental”, anterior à vinda do bebé. E, caso seja necessário, deve-se recorrer a ajuda especializada. 

Além disso, a vice-presidente da OMV aconselha a simulação de situações que vão passar a ser comuns no dia a dia do animal de estimação com a presença de um bebé

Na visão da especialista, “é muito positivo tentar familiarizar o animal para alguns sons e cheiros novos”. Por exemplo, há quem ponha a tocar “sons de bebés, como o choro”. 

Em relação ao cheiro, ter “produtos de higiene infantil” em casa pode ser uma boa técnica para habituar o cão ou gato a uma mudança de aroma.

Além disso, é importante prever as alterações na rotina do animal. “Por exemplo, se é sempre a mãe [do bebé] que vai à rua com o cão ou que muda a liteira do gato”, pode-se ir atribuindo essa responsabilidade a outro membro da família, de forma progressiva.

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Isto porque “a mãe pode estar mais ocupada com o bebé” e precisa que alguém a substitua nessas tarefas. Ao fazer-se essa transição, o animal “não sente uma alteração tão grande no momento em que o bebé chega”, esclarece.

Para mais, é pertinente “começar a definir o quarto onde o bebé vai dormir”, tentando, ao máximo, que o animal não esteja no mesmo sítio. Deste modo, quando o bebé já estiver em casa, cada um fica numa divisão diferente, “havendo o menor incómodo possível de ambas as partes”, justifica.

Quais os cuidados a ter na introdução do bebé ao animal de estimação?

Na perspetiva de Isabel Saraiva de Melo, “quando já existe um cão ou gato na casa, deve-se introduzir o bebé ao animal dando a cheirar uma peça de roupa e deixando-o cheirar o bebé”.

Tudo isto, salienta Sónia Miranda, deve ser feito com “supervisão constante”. Segundo a veterinária, “mesmo um animal tranquilo pode reagir de uma forma imprevisível em determinado tipo de situações”. 

A especialista sublinha que não é suposto “haver um pânico constante, mas deve haver uma supervisão de forma a percebermos se existe algum sinal de stress por parte do animal, como as orelhas para trás, a tentativa de se esconder de cada vez que ouve o bebé ou algum tipo de rosnar”.

Acima de tudo, é importante “manter o animal calmo durante as interações, sobretudo nas primeiras”, escolhendo utilizar “sempre algumas palavras de comando suaves, recorrer a recompensas, elogiar e associar a presença do bebé a experiências positivas”, defende.

No mesmo sentido, deve-se tentar “evitar repreender o animal na presença do bebé, para evitar associações negativas”, aponta.

Que cuidados de higiene se deve ter com a chegada do bebé?

Em primeiro lugar, frisa Sónia Miranda, “é fundamental” tomar todas as medidas de prevenção, ou seja, “a toma das vacinas e as desparasitações internas e externas”.

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Além disso, refere Isabel Saraiva de Melo, a chegada de um bebé a uma casa com um cão ou gato “implica alguns cuidados de higiene”. A pediatra defende que se deve “evitar a presença dos animais no quarto do bebé”.

No mesmo sentido, Sónia Miranda considera “importante manter a casa limpa, livre de pelos”. Para isso, recomenda-se implementar “uma rotina” que inclua “escovar” o animal e “eliminar e aspirar” os pelos, “independentemente de ser um cão ou gato” e de ter o pelo curto ou comprido.

Noutro plano, aponta, deve-se criar o hábito (caso tal não seja feito antes da chegada do bebé) de “fazer uma higienização” do cão ou do gato, sobretudo das patas, quando o animal vem da rua. 

Lavar regularmente os utensílios do animal”, como “as tigelas” e “os brinquedos” também é importante para “evitar contaminações cruzadas”, frisa a veterinária. 

Por outro lado, “incentivar a lavagem frequente das mãos, após as interações com o animal, também faz parte da educação contínua do bebé”, defende.

Como gerir a convivência ao longo do tempo

Como em tudo, a coabitação entre um bebé e um cão ou gato “só funciona bem se for cumprida uma série de regras” (ver aqui e aqui), defende Sónia Miranda. As especialistas que falaram com o Viral elencam cinco.

1 – Respeitar o espaço do animal

Sónia Miranda considera imprescindível “respeitar o espaço e os limites do animal”. Daí ser tão importante definir a zona da casa onde o cão ou gato vai dormir e, até, comer. Desse modo, o animal de estimação pode recorrer a locais onde possa descansar, sem ser incomodado.

2 – Educar o bebé em relação ao animal

Segundo Isabel Saraiva de Melo, “quando o bebé começa a gatinhar, é muito importante redobrar os cuidados”. Isto é, “não deixar o bebé puxar as orelhas ou o rabo, nem mexer na areia do gato ou na comida do animal”.

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O animal até pode não reagir nestas situações, mas, acrescenta Sónia Miranda, “a criança pode magoar o animal e isso não está correto”. Na visão da veterinária, é importante “haver respeito do bebé pelo animal e uma educação contínua, seja em que momento do crescimento do bebé for”.

3 – Vigiar sempre as interações entre o bebé e o cão ou gato

Isabel Saraiva de Melo avisa que “é muito perigoso quando as crianças pequenas são mordidas por um cão (muita vezes na cabeça ou pescoço) e, geralmente, isto acontece com cães da própria casa, de familiares ou de amigos”. 

Por esse motivo, “as crianças mais pequenas (até aos 5-6 anos) não devem ser deixadas sozinhas com os cães, e deve-lhes ser ensinado como se comportar junto do animal”.

De modo geral, a criança não deve “arreliar, empurrar ou puxar” o cão ou gato, “nem correr ou mexer-se muito rápido, porque isso será interpretado como sinal de que a criança quer brincar (mas ao estilo dos animais, que é naturalmente mais agressivo)”, explica.

Além disso, num texto informativo dos  Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC), aconselha-se ainda a “manter as crianças afastadas dos animais enquanto comem, para evitar o risco de mordidas ou outros ferimentos”.

4 – Continuar a dar atenção ao animal de estimação

Para Sónia Miranda, é preciso “tentar, ao máximo, que haja uma atenção equilibrada”, ou seja, “os momentos de atenção individualizada dada ao cão ou gato devem continuar a existir”, depois da chegada do bebé.

“Tirar tempo para festas e fazer mimos ao animal, independentemente do bebé, são ações que geram equilíbrio emocional no animal”, especifica.

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5 – Incluir o cão ou gato nas atividades da família 

Por último, a veterinária considera fundamental “promover atividades em conjunto, como caminhadas em família”. A título de exemplo, “se o cão adora ir passear à rua e se a família vai dar uma volta com o bebé na sua cadeirinha”, é positivo criar o hábito de “levar o animal a acompanhar”, nesse contexto.

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Quais os benefícios de crescer com animais de estimação?

Na visão de Isabel Saraiva de Melo, “em muitas casas, o cão ou o gato fazem parte da família e são uma fonte de alegria para todos” e, por norma, “há várias vantagens para as crianças em crescerem com animais”.

Do ponto de vista das alergias, salienta a pediatra, “os bebés que crescem com gatos em casa parecem ter menos alergia a este animal”. 

Além disso, “crescer com um cão também parece diminuir o risco de alergia a este animal, de asma ou sibilância e mesmo de alergia alimentar”. 

A nível emocional, “os animais são uma mais-valia quando a criança cresce”, pois, “a criança aprende a cuidar de outro”, “a ter algumas responsabilidades” e ganha “a experiência da perda de um ente querido quando os animais morrem”, conclui.

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Animais

19 Ago 2024 - 09:40

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