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Será tosse? Será uma bola de pelo? Tire as dúvidas, pela saúde do seu gato

É algo muito frequente na espécie felina, mas pode assustar alguns donos, sobretudo os que têm gatos pela primeira vez. Perceba o que são as bolas de pelo, como se formam e o que pode fazer para prevenir o seu aparecimento. Não costumam dar problemas de saúde, mas é preciso estar atento a alguns sinais.

20 Set 2024 - 09:58

Será tosse? Será uma bola de pelo? Tire as dúvidas, pela saúde do seu gato

É algo muito frequente na espécie felina, mas pode assustar alguns donos, sobretudo os que têm gatos pela primeira vez. Perceba o que são as bolas de pelo, como se formam e o que pode fazer para prevenir o seu aparecimento. Não costumam dar problemas de saúde, mas é preciso estar atento a alguns sinais.

Quem tem gatos sabe que, de vez em quando, os felinos costumam deixar pela casa alguns presentes que podem ser difíceis de identificar e que, quando se é um novato nesta tarefa de tutor, pode até criar alguma estranheza e mesmo aflição: as bolas de pelo.

Será que está doente? Vomitou? Está com tosse? Dois médicos veterinários explicam ao Viral o que são as bolas de pelo e como os tutores podem prevenir o seu aparecimento. 

Afinal, o que são as bolas de pelo?

Se o dono está neste momento a olhar para o resultado de uma regurgitação do seu gato a primeira ideia tranquilizadora é que “a formação das bolas de pelo é algo natural e esperado e é algo que não causa nenhum perigo desde que estas consigam ser eliminada pelas vias normais”, assegura Tomás Magalhães, médico veterinário e presidente do Grupo de Interesse Especial em Medicina Felina (GIEFEL) da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia

O nome clínico das bolas de pelo é tricobezoar, nomeia Inês Guerra, médica veterinária responsável pelo Departamento de Comportamento Felino do Grupo Hospital do Gato e vice-presidente da Ordem dos Médicos Veterinários.

“É o termo médico usado para definir as bolas de pelo, que podem acontecer tanto em gatos de pelo curto, como em gatos de pelo mais comprido”, embora as raças de pelo mais denso e comprido, de que são exemplo os Main Coon e os Persas, sejam mais propensas à formação de bolas de pelo.

As bolas de pelo resultam de uma das características mais ligadas a estes animais: o gosto pela limpeza. Os gatos são conhecidos por passarem grande parte do tempo durante o dia a fazer autolimpeza, o chamado grooming.

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Só que, ao lamberem-se, “a sua língua naturalmente áspera, faz com que arrastem muito pelo morto nessas lavagens, que acaba por se misturar com saliva e passar para o estômago, Junta-se, depois aos sucos gástricos e, eventualmente, a alguns resíduos alimentares, e forma a tal bola de pelo”, explica Tomás Magalhães.

Inês Guerra esclarece que este processo também acontece porque “se considera que os gatos não têm movimentos peristálticos [de contração dos músculos lisos que constituem os órgãos do tubo digestivo] mais fortes ao nível do estômago com função de «limpeza», como se verifica em outras espécies, o que pode levar à formação das ditas bolas de pelo”.

Num processo natural, essa bola é depois eliminada pelas fezes, considerada a forma mais comum que estes animais têm de a expelir.

Regurgitar a bola de pelo é outro processo considerado normal, embora menos comum. O gato vomita a bola que se formou no estômago e é muito facilmente identificada pelo tutor como sendo “um pequeno tufo [de pelo] com a forma de tubo, que é basicamente o formato do esófago, por onde a bola passa depois de sair do estômago, associado a saliva”, refere o médico veterinário.

Apesar de ser considerada uma situação benigna e usual, Tomás Magalhães alerta que a eliminação de tricobezoares através do vómito “não deverá ser frequente, ou seja, não estamos à espera que aconteça mais do que uma vez por mês. Se for algo muito regular, que aconteça várias vezes por semana, pode ser sinal de algum problema”.

Parece, mas não está a tossir

Quem vê o momento em que o gato está a tentar regurgitar uma bola de pelo pode ficar um pouco apreensivo pelos movimentos que o animal faz.

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Segundo esclarece o médico veterinário, “são movimentos de ânsia, de vómito, parece que estão engasgados e fazem movimentos a nível abdominal”, mas, sobretudo, fazem movimentos com a cabeça bem característicos. 

“Naquela ânsia de vómito movimentam a cabeça para a frente e para trás, esticando o pescoço e depois encolhendo-o, que terminam, então, com a eliminação da bola de pelo”, acrescenta Tomás Magalhães. 

Ambos os veterinários consideram muito importante o dono conseguir diferenciar entre o regurgitar as bolas de pelo e o tossir.

“Nesse mito que associa a tosse e das bolas de pelo importa esclarecer que as bolas de pelo não causam tosse, já que a tosse é um mecanismo associado à árvore respiratória, ou seja, ao pulmão, e não ao estômago”, esclarece Inês Guerra.

Para os menos entendidos, nomeadamente as pessoas que não têm muita convivência com felinos, à primeira vista pode confundir-se uma coisa com a outra, mas um olho mais atendo consegue diferenciar bem e, na realidade, não é difícil.

Quando o gato está com tosse, refere Tomás Magalhães, “o som que emite é mais seco e o esforço que vemos é torácico e não abdominal”. Os gatos também esticam o pescoço para tossir, mas não o retraem de seguida, mantêm a boca fechada e, o mais importante, não existe a expulsão de nenhuma bola de pelo.

O presidente do GIEFEL sublinha que é muito importante os tutores saberem diferenciar entre a regurgitação de bolas de pelo e a tosse porque “a asma felina é uma doença comum em gatos e a tosse é um dos sintomas”.

“Pode haver casos de asma felina que não estão a ser diagnosticados porque os tutores estão a atribuir a tosse às bolas de pelo e não é o caso”, acrescenta.

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O médico veterinário reconhece mesmo que “há muitos casos a chegarem ao consultório com tosse em que diagnosticamos asma, mas, quando fazemos o histórico do animal, as pessoas acabam por dizer que o gato fazia movimentos, mas que atribuíam às bolas de pelo”, embora não vissem o gato expelir qualquer tricobezoar. 

Quando procurar um médico veterinário?

A formação das bolas de pelo é, de facto, bastante usual nos gatos, mas também pode ser um sinal de que algo não está bem com a saúde do animal. “Se um gato está constantemente a eliminar bolas de pelo temos de perceber o que se está a passar”, frisa o médico veterinário.

Pode estar com algum problema gastrointestinal que não lhe permite eliminar as bolas de pelo pelas fezes ou pode dar-se o caso de estar a fazer um grooming excessivo. 

“Muitas vezes acontece em situações em que o gato está sob grande stress e acabará por se lamber muito mais, ou até arrancar o próprio pelo”, explica, acrescentando de seguida que algumas situações como “sentir dor ou algumas reações alérgicas – alergias alimentares ou ambientais, como as picadas de pulga – também podem fazer com que o animal se lamba mais e acabe por deglutir mais pelo que o normal”.

E o gato pode correr risco de vida?

Em situações limite, e consideradas extremamente raras, pode acontecer o gato correr risco de vida.

Se o gato não conseguir eliminar a bola de pelo pelas duas vias mais comuns, esta pode ficar retida no estômago e ganhar dimensões maiores que causam inflamação e uma irritação da mucosa gástrica que pode resultar em gastrite. 

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“Se essa bola depois transitar para o intestino, como já tem dimensões maiores, pode provocar uma obstrução intestinal e, quando isso acontece, é uma situação urgente que é necessário intervir cirurgicamente para remover o tricobezoar”, afirma Tomás Magalhães.

Essas são mesmo situações limite que Inês Guerra admite serem “casos não tão comuns” e que só acontecem quando o gato não responde à terapêutica médica “com agentes que aumentam a motilidade gastrointestinal e laxantes”.

Ainda assim, é necessário estar sempre atento, sobretudo se o gato tiver um histórico de formação recorrente de bolas de pelo, e procurar o médico veterinário se o gato:

– Tenta regurgitar, mas não sai a bola de pelo;

– Está mais prostrado;

– Tem alterações no trânsito intestinal;

– Está obstipado.

Como ajudar o gato?

Não sendo algo que, nas situações mais comuns, cause problemas de saúde ao animal, é possível, com algumas estratégias simples promover uma melhor qualidade de vida ao felino e diminuir o impacto da formação das bolas de pelo.

Os dois médicos veterinários aconselham:

– Escovagem diária: “É uma das coisas mais importantes”, reconhece Tomás Magalhães. Uma escovagem regular, principalmente nos gatos com pelagens mais compridas, vai ajudar a eliminar os pelos mortos que estão à superfície impedindo que o gato acabe por degluti-los. 

– Apostar na correta nutrição: Já existem no mercado algumas dietas mais ricas em fibra que ajudam a que haja uma eliminação mais facilitada das bolas de pelo através das fezes porque estimulam o trânsito intestinal. “Essas dietas também costumam ser suplementadas com vitaminas e minerais ácidos gordos – nomeadamente ómega 3 e ómega 6 – que ajudam o pelo a ser mais saudável e menos quebradiço, havendo, assim, menos possibilidade de o gato deglutir grandes quantidades de pelo”, acrescenta Tomas Magalhães. 

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– Hidratação adequada: Este é sempre um pormenor muito importante na saúde felina. São animais que, de facto, são pouco dados a beber água. Por isso, é fundamental ter sempre vários pontos de água distribuídos pela casa, mudar a água frequentemente e ter sempre os recipientes bem limpos. 

– Disponibilizar pasta de malte: São conhecidas por terem “um efeito laxante”, lembra Inês Guerra, que ajuda a eliminar o pelo trânsito gastrointestinal. Ainda assim, a médica veterinária recomenda sempre o aconselhamento especializado, porque se um animal não tem historial de formação de bolas de pelo, pode não existir necessidade nem de recorrer à pasta de malte, nem à alimentação suplementar.

E o azeite ajuda ou é mito?

Nos fóruns de donos de animais e durante os tempos de espera dos consultórios médico-veterinários trocam-se muitas ideias e truques. Quanto às bolas de pelo, o mais ouvido é: misture um pouco de azeite no patê ou dê um pouco numa colher que ajuda. Mas será verdade?

“A lógica da ideia, que durante anos foi muito disseminada, é que o azeite ajuda a lubrificar e podia ajudar a eliminar as bolas de pelo pelas fezes. Mas a verdade é que não há estudos que suportem esta ideia”, garante Tomás Magalhães.

20 Set 2024 - 09:58

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