Engolir água do mar faz mal? Em que quantidades?
Engolir água do mar de forma acidental pode acontecer em várias situações, seja durante um mergulho, seja enquanto se pratica desportos aquáticos. Mas será que a água salgada, em pequenas quantidades, faz mal ao organismo? E se beber muita?
Com a aproximação do verão e a subida das temperaturas, a afluência às praias aumenta. O que cresce também é o risco de, durante um mergulho, se engolir pequenas quantidades de água do mar (os chamados pirolitos). Mas será que ingerir acidentalmente um ou dois goles de água durante um mergulho faz mal à saúde? E o consumo em quantidades maiores tem riscos?
Beber água do mar faz mal à saúde?
Para responder a esta pergunta é importante ter em conta a quantidade de água ingerida.
Ingerir um ou dois goles de água do mar de forma acidental não traz, por norma, “nenhum prejuízo à saúde, desde que a água não seja salobra, que tenha condições de higiene”, adianta, em declarações ao Viral, o gastroenterologista Guilherme Macedo.
“A água do mar, tal como a conhecemos nas nossas praias, não tem nenhuma consequência negativa se for em pouca quantidade e de forma acidental”, reforça o especialista.
O problema surge quando se bebe uma grande quantidade de água do mar. Pedro Figueiredo, diretor do serviço de gastroenterologia no Centro Hospitalar Universitário da Universidade de Coimbra, aponta que o “elevado teor de sal” da água do mar pode provocar “efeitos no organismo humano”.
Esses efeitos estão associados, por exemplo, a casos de “desidratação”, que acabam “por levar à falência do rim e ao aparecimento de um quadro de delírio e convulsões”.
O gastroenterologista esclarece que “não é possível precisar a partir de que quantidade ingerida ocorrem os efeitos referidos”, uma vez que estes “poderão variar em função da pessoa e do estado físico”.
Pedro Figueiredo salienta, contudo, que, se “a pessoa estiver consciente e ingerir acidentalmente uma grande quantidade, provavelmente, irá vomitar e expelir parte da água ingerida”.
A água do mar é hipersalina, contendo uma salinidade média de 35‰ (o que significa que em cada litro de água existem 35 gramas de sais dissolvidos). No caso do mar Morto (o mar com maior concentração de sal do mundo), a salinidade anda na ordem de 300‰ a 400‰.
Esta concentração de sal é muito superior à que o organismo necessita para sobreviver e, por isso, a ingestão de água do mar em grande quantidade vai alterar os níveis de hidratação das células, podendo “provocar um desequilíbrio iónico muito grave”, alerta Guilherme Macedo. Esse desequilíbrio pode “até ser fatal”.
Os seres humanos têm capacidade para ingerir pequenas quantidades de sal diariamente. No entanto, como avança a Administração norte-americana Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla inglesa), “o teor de sal na água do mar é muito maior do que o que pode ser processado pelo corpo humano”.
“As células vivas dependem do cloreto de sódio (sal) para manter as reações químicas em equilíbrio no corpo; no entanto, muito sódio pode ser mortal”, avisa a organização internacional. Isto porque “os rins humanos só podem produzir urina menos salgada do que a água do mar”, o que dificulta o processo de expulsão do sal ingerido em excesso.
A água do mar é utilizada em contexto farmacológico, mas esses medicamentos são processados e dessalinizados, sendo a sua utilização segura para o organismo.
E quando a água do mar está contaminada ou salobra?
A ingestão de água do mar contaminada ou salobra – seja devido à presença de produtos tóxicos (industriais ou naturais) ou de conteúdo fecal – pode “desencadear gastroenterite infecciosa”, alerta Guilherme Macedo.
O especialista lembra, contudo, que a qualidade da água nas praias portuguesas é verificada regularmente.
Como refere o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos da Agência Portuguesa do Ambiente, “a qualidade das águas balneares representa não só um fator de saúde como também um importante indicador de qualidade ambiental e de desenvolvimento turístico”.
Por essa razão, seguindo as diretrizes europeias e nacionais, as águas das zonas balneares são analisadas regularmente, principalmente durante o verão.
Em conclusão, beber uma pequena quantidade de água do mar, de forma acidental, não causa, regra geral, problemas graves na saúde. No entanto, ingerir uma grande quantidade de água do mar pode ter consequências graves devido ao seu elevado teor de sal, provocando uma situação de desidratação.
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