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O bakuchiol é tão eficaz quanto o retinol? O que se sabe e o que falta saber

O bakuchiol tem sido anunciado pela indústria cosmética como uma alternativa eficaz ao retinol, aquele que é considerado um dos ingredientes mais eficazes para reduzir os sinais do envelhecimento da pele. Será que existe demonstração científica desta alegação?

21 Mar 2023 - 03:27

O bakuchiol é tão eficaz quanto o retinol? O que se sabe e o que falta saber

O bakuchiol tem sido anunciado pela indústria cosmética como uma alternativa eficaz ao retinol, aquele que é considerado um dos ingredientes mais eficazes para reduzir os sinais do envelhecimento da pele. Será que existe demonstração científica desta alegação?

O retinol é um dos ingredientes mais publicitados como sendo fundamental numa rotina de skincare que pretenda diminuir os sinais visíveis de envelhecimento da pele e tem resultados comprovados cientificamente, por exemplo, na redução da aparência das rugas e na diminuição das manchas que resultam da exposição solar, mais conhecidas por lentigo solar.

Contudo, nas redes sociais e na publicidade de produtos de dermocosmética tem aumentado a divulgação de alegações nas quais o bakuchiol é apresentado como uma alternativa natural ao retinol, igualmente eficaz no combate aos sinais de envelhecimento e com menos potencial irritativo do que o derivado de vitamina A.

Mas o que diz a evidência científica já publicada sobre esta alegação?

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O bakuchiol é tão eficaz a prevenir os sinais de envelhecimento da pele quanto o retinol?

bakuchiol

“Neste momento, não sabemos e o que já sabemos não nos permite afirmar isso. Aliás, até nos permite pensar que o bakuchiol é menos eficaz do que o retinol”, explica ao Viral Marta Ferreira, pós-graduada em Cosmetologia Avançada, doutoranda em Ciências Farmacêuticas e autora do “Livro da Pele”.

Segundo o relato da farmacêutica, o que a ciência até agora comprovou é que, apesar de serem moléculas diferentes ao nível da estimulação e ativação de genes associados ao envelhecimento, aparentemente, os dois ingredientes conseguem ativar alguns genes em comum, muito embora nem todos os genes ativados pelo retinol sejam ativados pelo bakuchiol. 

Por exemplo, os genes associados à irritação cutânea que a utilização do derivado da vitamina A pode ativar, sobretudo em concentrações mais elevadas, não são ativados pelo uso de bakuchiol.

Só que essa ativação de genes, no caso do bakuchiol foi demonstrada apenas em ensaios in vitro, ou seja, em células, o que faz desta uma hipótese que necessita de ser confirmada clinicamente, com estudos realizados em pessoas para saber se é uma alternativa tão eficaz como o retinol para o combate aos sinais de envelhecimento.

Afinal, sublinha a especialista em Cosmetologia Avançada, “a maioria dos produtos com ações antienvelhecimento têm de atuar na produção de colagénio abaixo da epiderme e se esta molécula não chegar lá, pelo menos para uso tópico em cosmética, o ingrediente pode não ter serventia”. Em suma, “o fato de ativar genes não quer dizer que, a nível clínico de eficácia, o consumidor consiga sentir essa eficácia”.

Ainda assim, as publicações apontam resultados promissores na utilização do ingrediente, mas que necessitam de ser avaliados em ensaios clínicos com utilizadores e em estudos que comparem os dois ingredientes.

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Até agora, o único estudo com utilizadores que comparou a eficácia do bakuchiol com a do retinol, apesar de ser “muito interessante”, não apresentou dados conclusivos. 

Neste trabalho, publicado no British Journal of Dermatology, os utilizadores foram divididos em dois grupos: um aplicou o produto com 0,5 % de bakuchiol de manhã e à noite e o outro grupo aplicou o produto com 0,5% de retinol apenas à noite. 

Apesar de os investigadores terem concluído que as diferenças nos resultados obtidos pelos dois produtos não eram muito significativas, “o estudo tem uma série de questões que levantaram dúvidas porque as avaliações não foram as mais objetivas”, refere Marta Ferreira, além de que as doses dos produtos utilizadas não eram semelhantes. 

A especialista em Cosmetologia Avançada acrescenta o seguinte: “Para o retinol temos muitos estudos, feitos ao longo de muitos anos, que nos dão muita confiança relativamente à eficácia deste ingrediente. Com o bakuchiol isso não acontece e o único estudo comparativo que temos até demonstra que, para o dobro da dose diária, tem uma eficácia inferior, apesar de continuar a ser [um ingrediente] interessante, sobretudo para quem não tolera o retinol”.

Depois deste trabalho, ainda não foram publicado outros que fizessem esta comparação direta entre os dois ingredientes e, como só existe um estudo comparativo, “qualquer erro metodológico nesse estudo vai contaminar o nosso raciocínio e, por esse motivo, são precisos estudos noutros laboratórios, com indivíduos de outras etnias, semelhante aos estudos que já temos com o retinol”, refere a especialista.

Mas, afinal, o que é o bakuchiol?

bakuchiol

O bakuchiol é um fenol de monoterpeno abundante em sementes e folhas da planta Psoralea corylifoli (originária da China, Índia e Paquistão) e é um dos compostos utilizados na medicina tradicional chinesa “nomeadamente para o tratamento da psoríase e de outras patologias cutâneas, embora sem muita evidência científica”, refere Marta Ferreira.

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Este é um dos vários compostos desta planta que, em estudos in vitro, também revelou ter uma ação na redução da melanina, importante para quem tem manchas – não só resultantes do envelhecimento, mas também de algumas patologias, como o melasma – mas os resultados obtidos foram sempre em associação com outros ingredientes.

Os testes em laboratório também têm demonstrado uma ação anti-inflamatória e seborreguladora do bakuchiol que pode ser interessante no tratamento da pigmentação inflamatória, um tipo de mancha comum após crises de acne, e algumas propriedades antimicrobianas têm levado algumas marcas a usar este ingrediente em cosméticos para pele com tendência acneica.

Quais são as vantagens do bakuchiol?

bakuchiol

O que se conhece sobre a ação do bakuchiol ainda está “numa fase muito inicial de investigação para se declarar ser uma alternativa tão eficaz como o retinol e não podemos afirmar isso taxativamente porque nenhum estudo o demonstra para concentrações iguais”, reforça Marta Ferreira.

Contudo, atendendo à sensibilidade que alguns utilizadores reportam com a utilização do retinol – como descamação, prurido, sensação de picada ou vermelhidão – o bakuchiol pode ser um ingrediente interessante, pois não ativa os genes associados à reatividade cutânea e não se associa a este tipo de efeitos adversos. Ainda assim, frisa a especialista, “não pode ser expectável uma redução dos sinais do envelhecimento tão aparente como a obtida com os produtos com retinol”.

Outra perspetiva que está a ser avaliada é a utilização dos dois ingredientes em simultâneo, pois nos estudos laboratoriais o bakuchiol demonstrou ser capaz de estimular a produção de proteínas recetoras para o retinol.

“Este é um efeito sinérgico que resulta da análise dos estudos genéticos, mas é ainda uma hipótese que necessita ser estudada e pode ser interessante no futuro”, sustenta.

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De momento, por não haver ensaios realizados com utilizadores e apenas existir um estudo comparativo entre os dois ingredientes, Marta Ferreira considera que a alegação sobre a eficácia do bakuchiol ser igual à do retinol pode ser considerada falsa por ainda não estar demonstrada.

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Pele

21 Mar 2023 - 03:27

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