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Animais de estimação podem comer comida caseira? Quais os riscos?

4 Mai 2023 - 03:24

Animais de estimação podem comer comida caseira? Quais os riscos?

Quantas vezes viu familiares e amigos alimentarem o cão com a comida que sobrou do almoço ou do jantar? Será que os animais de estimação podem comer restos de comida? E se os donos cozinharem de propósito para os animais? O Viral procurou esclarecer as questões junto de dois veterinários da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV).

É verdade que os animais de estimação podem comer comida caseira?

animais comida caseira

Em declarações ao Viral, Mafalda Pires Gonçalves, veterinária e responsável pelo serviço de Nutrição e Centro do Peso Saudável do Hospital Escolar Veterinário da FMV da Universidade de Lisboa, começa por explicar que, em geral, os animais de estimação podem comer comida caseira.

No entanto, acrescenta, “cada caso é um caso” que depende de vários fatores, tais como “o historial clínico, o tipo de comida e a quantidade”.

Por exemplo, se o animal tiver alergias alimentares ou doença inflamatória intestinal, “não deve comer alimentos que possam potenciar os sinais clínicos associados à doença”.

Esta é uma ideia também defendida por Rui Bessa, professor associado de Produção Animal da FMV. Na perspetiva do veterinário, os animais de companhia podem comer comida caseira, se esta “estiver integrada numa dieta equilibrada”. 

O problema, reconhece, é que a maioria das pessoas “não sabe equilibrar dietas de cães e gatos”.

A preferência deve ir sempre para o alimento comercial, porque é o “único comprovado cientificamente que é completo e equilibrado”, acrescenta Mafalda Pires Gonçalves. 

Quando o alimento comercial é produzido por “marcas com reputação, com investigação clínica e desenvolvido por uma equipa com médicos veterinários” garante as quantidades “ideais de nutrientes e energia”.

“Dificilmente se consegue uma dieta equilibrada para os animais apenas com restos de comida das nossas refeições. E há riscos sanitários dos alimentos não estarem em condições”, refere o investigador da FMV, em declarações ao Viral.

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Na mesma linha, numa publicação da American Animal Hospital Association defende-se que uma dieta equilibrada em casa “exige uma preparação específica e consistente”, com orientação veterinária para evitar “carências nutricionais ou excessos”. 

Mafalda Pires Gonçalves esclarece que existem dois tipos de alimentos para os animais: os completos e os complementares. 

Os completos têm a “quantidade adequada de nutrientes” (mais de 40), dos quais o cão ou o gato “necessitam diariamente”.

Já os complementares  – como os biscoitos, snacks, barritas dentárias e a comida caseira – não fornecem “por si só” todos os “nutrientes essenciais”. Assim sendo, estes alimentos  devem ser oferecidos ao animal, “esporadicamente, como prémio ou recompensa”, e devem representar, “no máximo, 10% das necessidades energéticas diárias”.

Os donos podem cozinhar propositadamente para os animais?

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“As pessoas podem cozinhar propositadamente para os seus animais ou aproveitar algumas sobras, desde que sejam alimentos frescos ou acabados de cozinhar”, afirma a responsável pelo serviço de Nutrição e Centro do Peso Saudável do Hospital Escolar Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária.

Mas há alimentos a evitar. É o caso de “refogados com alho e cebola, alimentos muito condimentados ou com picante, alimentos gordurosos, enchidos, pele de frango/pato/leitão, uvas/passas e ossos”, exemplifica, acrescentando que “tudo o resto” tem de ser avaliado com o médico veterinário “e sempre dentro das proporções adequadas”.

Mafalda Pires Gonçalves sublinha ainda que alimentação crua pode ter riscos para os animais, como “trauma dentário e obstruções ou engasgamento”, com a ingestão de ossos, e “infecções potencialmente patogénicas (como a Salmonella) “que pode ter efeitos nefastos quer nos cães e gatos, quer nas pessoas que preparam a sua comida”. As bactérias presentes em carne crua são também referidas pelo Journal of the American Veterinary Medical Association.

O que é uma dieta desequilibrada e quais as consequências?

Questionada sobre as consequências de uma dieta desequilibrada num animal de companhia, a médica veterinária referiu a obesidade, “onde há desequilíbrio em termos calóricos”, e problemas a “médio-longo prazo” derivados de carências nutricionais, como “anemia, fragilidade do pelo e da pele, diarreia e problemas nos ossos e articulações”.

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Por outro lado, uma dieta equilibrada é a que está adaptada em termos de nutrientes e energia, “em função da espécie (cão ou gato), da fase de vida do animal (idade pediátrica, adulta, sénior), estado reprodutivo (inteiro ou esterilizado), nível de atividade (sedentário, ativo) e se tem alguma doença diagnosticada (há algumas dietas formuladas cientificamente que estão adaptadas para prevenir, tratar ou evitar a progressão da doença).

O excesso de peso e obesidade em animais de companhia tem crescido nos últimos anos e é um dos fatores que mais influencia a longevidade, de acordo com uma publicação da Association for Pet Obesity Prevention. No mesmo texto refere-se também que o excesso de peso num animal aumenta o risco de desenvolver doenças como a diabetes, a artrite e a doença renal.

Como perceber que o animal está a ter uma reação adversa ao alimento?

“Cada caso é um caso, porque cada organismo reage de forma diferente aos excessos ou défices nutricionais”, afirma a médica veterinária.

Os sinais mais comuns costumam ser gastrointestinais (vómitos e/ou diarreia), e dermatológicos (comichão, pele avermelhada e lesões cutâneas), especifica a responsável da Faculdade de Medicina Veterinária

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Alguns animais apresentam, por exemplo, alterações neurológicas, fraca resposta do sistema imunitário e alterações na mobilidade, acrescenta.

Em conclusão, os animais de companhia (sem alergias alimentares nem doenças intestinais), no geral, podem comer comida caseira, desde que seja fresca/acabada de cozinhar e como um “complemento” à alimentação principal. Convém, contudo, evitar alimentos muito condimentados e com gordura, ossos. A preferência deve ir sempre para as rações de marcas “com reputação”.

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4 Mai 2023 - 03:24

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