Dar açúcar aos bebés antes dos dois anos? Conheça os riscos
O açúcar é adicionado a muitos alimentos que são consumidos no dia a dia, como, por exemplo, iogurtes, bolachas e sumos. Os riscos associados ao consumo excessivo de açúcar adicionado levam os profissionais de saúde a recomendar que seja consumido com moderação. No que toca à alimentação dos bebés, o açúcar é mesmo um ingrediente proibido.
A nutricionista dedicada à área materno-infantil Mariana Batista explica, em declarações ao Viral, que tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) como a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) recomendam que os bebés “não consumam açúcar livre nem adicionado antes dos dois anos de idade” devido ao impacto negativo que este componente terá na saúde a curto e longo prazo.
“Desde o aparecimento de cáries dentárias ao aumento do risco de outras doenças como a diabetes mellitus tipo 2 ou a doença cardiovascular”, o consumo excessivo de açúcar pode ainda “estar associado a problemas gastrointestinais, como diarreia crónica, flatulência, distensão, dores abdominais, atraso do crescimento e ainda a alterações do comportamento”, esclarece.
Desenvolvimento de hábitos alimentares
A nutricionista e autora da página de Instagram Chico-Papão afirma que o açúcar também pode interferir, de forma negativa, no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, “uma vez que incluir alimentos demasiado doces no dia alimentar do bebé vai condicionar o paladar e aumentar ainda mais a preferência pelo doce”.
Isto faz com que os bebés tenham mais dificuldade em aceitar alimentos com sabores mais amargos, como é o caso dos vegetais e de algumas frutas, ou mesmo do iogurte natural.
“Em alguns casos em que são oferecidos sumos de fruta, por exemplo, pode até haver uma diminuição da ingestão do leite habitual do bebé (seja ele materno ou de fórmula), podendo haver um comprometimento do aporte nutricional, tão importante nesta etapa de desenvolvimento”, exemplifica.
A nutricionista considera assim fundamental que os pais evitem introduzir alimentos ricos em açúcar, “especialmente antes dos dois anos, para garantir que os bebés desenvolvem uma alimentação equilibrada e variada”.
E a partir dos dois anos? Quais são as recomendações relativas ao consumo de açúcar?
Após os dois anos, as recomendações da OMS continuam a ser muito restritas. O consumo de açúcar livre para crianças entre os 2 e os 4 anos deve ser “inferior a 5% da ingestão energética”, o que equivale a cerca de 15g de açúcar.
“Esta quantidade pode ser facilmente ultrapassada com o consumo de alimentos como bolachas, iogurtes de aroma e até papas infantis”, explica Mariana Batista.
A nutricionista recomenda que, para controlar a ingestão de açúcar, os pais devem sempre preferir oferecer alimentos naturais, como iogurte sem açúcar, frutas frescas, “ou cereais sem açúcar, como os cereais puff”.
Mariana Batista esclarece que os pais não precisam de rotular os alimentos como “bons” e “maus”. Em vez disso, “devem ensinar as crianças a fazer boas escolhas alimentares” e evitar que sejam eles “os primeiros a apresentar alimentos com maior quantidade de açúcar como doces, chocolates e gelados”, uma vez que são alimentos que irão “surgir naturalmente ao longo do crescimento das crianças”.
Bebés nascem com preferência pelo sabor doce?
Alguns estudos já mostraram que os bebés nascem com preferência pelo sabor doce. A nutricionista consultada pelo Viral refere que “algumas pesquisas sugerem que esta preferência pelo doce pode estar ligada a fatores evolutivos, já que alimentos doces geralmente contêm calorias e nutrientes importantes”.
Além disso, a preferência inata pelo doce pode ter um papel protetor “no que toca à ingestão de alimentos tóxicos ou venenosos associados ao sabor amargo na natureza”, afirma a nutricionista.
Mariana Batista explica que as preferências alimentares do bebé “vão poder ser moldadas logo desde a gestação, em que começam a ter contacto com o sabor dos alimentos que a mãe come através do líquido amniótico”, depois através do leite materno e, por fim, na fase da introdução alimentar.
Nesta última fase, quanto maior a variedade de alimentos oferecidos ao bebé melhor, visto que as suas preferências alimentares vão ser “fortemente influenciadas pelos hábitos culturais da família”.
A importância de saber ler os rótulos
Muitos alimentos à venda nos supermercados que se destinam a bebés contêm “açúcares adicionados que podem passar despercebidos, contribuindo para um consumo excessivo e indo contra as recomendações”.
Nesse sentido, saber ler os rótulos é fundamental porque ajuda a identificar os ingredientes, aditivos e açúcares adicionados presentes em determinado produto.
“Há produtos em que se assinala ‘0% açúcares adicionados’ e, depois, observamos na tabela nutricional valores de açúcares elevados provenientes do uso de farinhas hidrolisadas ou de sumos de fruta concentrados, que não são considerados açúcares adicionados, uma vez que resultam do processamento destes ingredientes e não são adicionados como ingrediente em si”, exemplifica.
A nutricionista dedicada à área materno-infantil explica que, através da leitura dos rótulos, os pais conseguem tomar decisões informadas sobre a alimentação dos filhos.
“Uma alimentação com baixo teor de açúcar na primeira infância tem um impacto direto nos hábitos alimentares futuros da criança”, conclui.
Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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